Em1986, a banda RPM lançou para o Brasil o álbum ‘Rádio Pirata – Ao Vivo’. O projeto, como muitos sabem, só aconteceu devido ao sucesso da canção ‘London London’, que foi pirateada em um show realizado em Porto Alegre. Passaram-se quase 35 anos deste lançamento (33 para ser mais exato) e Paulo Ricardo lançou a turnê comemorativa deste álbum que entrou para a história do rock nacional.
Fotos: Douglas Fischer |
A turnê passou pelo Bar Opinião – tradicional casa do rock em Porto Alegre – no último final de semana e alegrou as centenas de pessoas que saíram de casa para matar a saudade dos anos 80 (período onde o rock brasileiro fervilhou). O cantor, hoje em carreira solo, não decepcionou a casa cheia e apresentou o álbum de 1986 na íntegra durante às 01h30 de show.
O show abriu com o clássico, que também dá nome a banda, ‘Revoluções por Minuto’. Depois disso, foram uma sequência de hits que compuseram os dois primeiros álbuns da banda. Isso mesmo. Músicas que não fizeram parte do projeto ao vivo também tiveram espaço no show. Foram os casos de ‘A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade’, ‘Pr'esse Vício’, ‘Liberdade/Guerra Fria’ e ‘Sob a Luz do Sol’.
Essas últimas canções não faziam parte do setlist da banda e da carreira solo do cantor há algum tempo. No show do RPM de 2012 (turnê Elektra) e de 2019 (nova formação da banda) só contavam com ‘Sob a Luz do Sol’ nos shows. Então acredito que, para o público saudosista presente no show (a média de faixa etária era de 40 anos) foi bom rever os clássicos e o cantor Paulo Ricardo.
Esse cantor que parece não perder o ritmo dentro do palco. Cheio de energia, ele interagiu com o público há todo momento. Público esse que eu achei que decepcionaria a noite. Isso porque, no mesmo dia, os ingressos ainda estavam no primeiro lote. Contudo, para sorte de quem optou por sair de casa, o show estava acima da média e a casa lotada para voltar aos anos 80.
Além de fazer um grande show, Paulo Ricardo também recebeu os fãs em seu camarim. Ele tem uma base muito grande em Porto Alegre e deixou claro isso no palco, quando agradeceu o carinho e disse ter ciência da exigência que o público gaúcho tem. Talvez seja por isso que ele tenha agradado tanto o público presente: ele foi fiel ao projeto do passado, com direito aos famosos lasers e homenagens.
Os pontos altos da apresentação foram os clássicos ‘London London’, ‘Rádio Pirata’ e ‘Olhar 43’. Todas as músicas na verdade tiveram uma boa interação do público, mas havia canções que eram mais lados B e que o público não lembrava tanto. Porém, assertivamente, o músico não tirou nenhuma daquele setlist e isso fez com que o show fosse fiel ao passado.
O show teve apenas dois pontos que podem ser considerados baixos. O primeiro deles foi na canção ‘Naja’, que é um instrumental lindo (o único brasileiro a figurar no topo das paradas). O problema é que ele ficou conhecido por dar espaço para os músicos da formação original se apresentar. Isso infelizmente não pode acontecer pois a banda não está mais junto (Paulo segue carreira solo e o RPM tem outro vocalista).
Outro ponto abaixo do esperado foi a inserção de ‘Vida Real’ no BIS. O motivo é que, por mais que a letra seja boa, a canção ficou diretamente ligada ao BBB, programa brasileiro que o fã de rock muitas vezes não acompanha. Além disso, não foi apresentada a versão de 2002, mas sim uma mais eletrônica. Isso fez com o público dispersasse por algum tempo – mas agradou os poucos jovens presentes no show.
Porém, um ponto que foi possível aferir (dois na verdade) é o carinho que o público tem por essas canções e a energia que Paulo Ricardo ainda coloca em seus shows. Antes de começar, muitos se pensavam se esse evento não poderia ter ocorrido no Araújo Vianna (seguindo o caminho de Lulu Santos, por exemplo). Contudo, na sexta-feira deu para ver que o show precisa ser visto de pé e em uma casa como o Bar Opinião.
Paulo Ricardo fez um dos seus shows mais seguros – como deve ser toda a turnê. Mesmo com pontos considerados baixos, o público sempre esteve presente com o cantor e o seu carinho reflete isso. Ele tem consciência do seu tamanho dentro de Porto Alegre e da importância que a capital tem em sua carreira. E ele fez questão de mostrar isso em um lindo show para os saudosistas relembrarem do icônico ‘Rádio Pirata – Ao Vivo’.
Guilherme Wunder
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