quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Entrevista com a colorista gaúcha Cris Peter

Foto: Divulgação
Cris Peter é uma colorista gaúcha que trabalha principalmente para o mercado norte americano, além disso lançou recentemente um livro sobre cores financiado pelo projeto Catarse. A porto alegrense faz parte também de projetos nacionais de destaque, como 'Astronauta – Magnetar', da linha Graphic MSP. Cris conta que começou sua carreira muito cedo, pois sempre gostou de desenhar, tanto é que fez um curso sobre isso no Museu de Artes do Rio Grande do Sul. "Foi quando tive pela primeira vez esse contato com os quadrinhos americanos, que eram o grande interesse na época, e eu fui de gaiato nessa pois era amiga desse pessoal. Quando eles começaram a publicar na internet, eu vi esses tutoriais de colorização e me interessei por isso."

A gaúcha conta no início ela fazia isso por hobbie, como se fosse um grupo de apoio, e que ela gostava mais de pintar do que desenhar, pois sempre teve dificuldade e preguiça para ilustrar: "Quando eu era criança, meus livros de colorir era meus brinquedos favoritos. Daí o pessoal começou a pegar trabalho da web mesmo e quando vi estavam com uma demanda muito grande. E eles começaram a pedir minha ajuda pra fazer a colorização. E foi assim que comecei, fazendo trabalho pra internet."

Trecho da HQ Casanova
Mas foi em 2005 que Cris Peter começou a trabalhar profissionalmente com a colorização. A porto-alegrense fala que antes disso trabalhava como freelancer pois não tinha muita ambição para trabalhar com isso nos seus 16 e 17 anos: "Não estava pensando em carreira ainda, nem tinha feito vestibular. E eu e esses meus amigos tínhamos um cliente que era a Ak Comics, do Egito. E o cara quis nos levar pra lá, para participar da San Diego Comic Con 2005. E lá tive uma experiência muito boa que foi conhecer a realidade do mercado de quadrinhos. Foi quando eu vi que realmente tinha uma oportunidade de profissão ali."


Peter diz que seu primeiro trabalho para o mercado americano foi na DC Comics, nas edições 51 e 52 na revista do 'Superman/Batman': "Mas o primeiro trabalho fixo, mais intenso mesmo, foi na Marvel, quando comecei a fazer o 'Casanova'. Depois me chamaram pra fazer 'X-Men', depois foi a 'Marvel Nights'. E depois veio também a Vertigo falar comigo. Então eu trabalho mais com a DC Vertigo do que com a DC super-herói." A colorista conta que esse convite para trabalhar fora se deu pela sociedade que tinha com o desenhista e quadrinista gaúcho Rafael Albuquerque, que foi o responsável pelo desenho nas edições 51 e 52 do 'Superman/Batman', mas que para o trabalho fixo na Marvel veio através dos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá:

- A gente se conheceu em convenções e ele me chamou pra fazer um teste pro 'Casanova', que já tinha sido impresso pela Image, só que não tinha cores, era preto e branco e um tom de verde e eles estavam relançando pela Marvel Icon. Acredito que queriam o Dave Stewart que nem fez no 'Umbrella'. Só que ele não estava disponível e pensaram em mim. Não é tão comum fazer o estilo que é o 'Casanova' e eu estava experimentando esse lado porque eu nunca gostei de colorir super-heróis. Tanto que quando eu fiz 'Superman/Batman' foi uma dor de cabeça, porque o editor encrencou. Porque não é o estilo que ele gostam, a DC tem um padrão, com os músculos brilhando e aquela coisa. Não dá pra fazer uma coisa mais sóbria, que eu gosto muito de fazer.

Trecho da Graphic Novel Astronauta
A artista que já foi indicada ao prêmio Will Eisner, o mais importante da indústria dos quadrinhos internacional, fala que quando soube da indicação pelo trabalho em ‘Casanova: Avaritia e Casanova: Gula’, de Matt Fraction, começou a gritar em frente ao computador: “Foi o próprio escritor do 'Casanova' que me comunicou antes de sair a publicação oficial. Eu não acreditei, porque de todos os coloristas que existem, eles me enxergaram. Fiquei muito feliz, não posso dizer igual outros dizem que a indicação já foi um prêmio, posso dizer que ela foi um reconhecimento.” Atualmente Cris Peter está trabalhando na sequência do ‘Astronauta’, que deve sair na Comic Com Experience, além de estar participando de duas mensais da Vertigo, uma que é ‘Hinterkind’ e a outra ainda é segredo; e de uma minissérie para a Marvel, mas que também não pode ser revelada.


A gaúcha recentemente atacou como escritora e está lançando o seu primeiro livro, intitulado 'O Uso das Cores'. O projeto realizado através de financiamento coletivo pelo Catarse, explica aos leitores as ferramentas mais básicas de criação e uso da cor até assuntos avançados, como matiz, saturação, luminosidade, roda cromática, storytelling, profundidade, foco e diversos outros tópicos. A colorista conta que já fazia tutoriais em seu blog e em uma coluna no Rio Comic Con e que as pessoas tinham cada vez mais dúvidas que ela nem sabia mais como responder em tão poucos parágrafos. Foi quando veio a ideia de escrever um livro que abordasse, de um jeito diferente, levando mais para a parte de ilustração e montagem de imagem.

Foto: Divulgação
Para o futuro, Cris diz que são muitos os projetos, entre eles voltar a escrever: “Eu já tinha iniciado um projeto com a Ana Luíza Koehler, chamado 'Patas Sujas', que vai ser uma história infantil que tentaremos fazer como Web Comic. Além disso existe um trabalho totalmente subjetivo, que é um livro pequeno que fiz com quatro ilustrações. A ideia do projeto é fazer umas narrativas sobre as cores. Eu não vou te contar as cores, vou te dar uma porcentagem sendo magenta e amarelo e irei escrever um texto à respeito de uma personagem de sentimentos, sons e coisas que para mim tem a ver com essa cor. E eu fiz esse livro de 4 ilustrações que eu estava vendendo nas convenções e vou continuar vendendo pois tenho bastante cópias, e uma editora já se pronunciou para publicar uma edição maior, então estou preparando também este outro projeto. As ideias não param de fluir na minha cabeça, só tenho que fazer uma de cada vez.”

Guilherme Wunder

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