quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Dos tatames para os palanques

Um dos esportes olímpicos mais valorizados e competitivos no Brasil é o judô. Tanto é verdade que essa é uma das modalidades que mais trouxe medalhas para o país em Jogos Olímpicos, sendo duas de ouro, três de prata e sete de bronze. E entre os atletas mais valorizados da história está o gaúcho João Derly.

Foto: Divulgação
O ex-judoca foi o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha de ouro no Campeonato Mundial da modalidade. O feito aconteceu em 2005, na cidade do Cairo, no Egito. Derly teve uma carreira vitoriosa: venceu também os Jogos Pan-Americanos e o Mundial de 2007, ambos realizados no Rio de Janeiro, e dezenas de torneios importantes do circuito mundial do judô.

João Derly de Oliveira Nunes Júnior tem 33 anos e é natural de Porto Alegre. Apesar de ser um dos maiores atletas do país, o judoca não começou no esporte porque tinha vocação para tal, mas sim por indicação médica. Ainda aos sete anos de idade ele havia sido diagnosticado com hiperatividade e asma, duas doenças que foram curadas no tatame.

As lutas contra a balança

O gaúcho conquistou grandes títulos mesmo enfrentando problemas com a balança – dificuldade muito comum na rotina dos judocas de alto rendimento. Nos dez últimos anos de carreira, João Derly sofreu diversas vezes com o excesso de peso e a dificuldade para perdê-lo. Em 2002, quando lutava na categoria até 60 kg, chegou a ser flagrado em um exame antidoping por uso de um medicamento diurético e acabou sendo obrigado a subir para o peso até 66 kg. E essa não foi a primeira vez em que ele mudou de categoria: em 2009 teve que subir novamente, dessa vez para o peso leve (até 73 kg).

“Praticamente todos atletas das artes marciais, de alto e altíssimo rendimento, sofrem com a balança. O maior problema eram as dietas para emagrecer. No início, antes do primeiro Mundial, eu não tinha acompanhamento e fazia coisas malucas. Correr de moletom, essas coisas. Práticas abolidas hoje, com vários especialistas que te dão a orientação correta e saudável”, afirma o ex-judoca.

Foto: Portal SESCSP
Outro grande problema de Derly foram as constantes lesões que acabaram provocando a sua aposentadoria em 2012. Pelo menos três grandes contusões prejudicaram o atleta em 2006, 2009 e 2010. Na primeira o gaúcho teve que passar por uma cirurgia no ombro direito; na segunda machucou os músculos abdominal e adutor direitos e ficou de fora do Mundial de Roterdã; e na terceira teve que operar duas vezes o joelho esquerdo, ficando um ano em tratamento.

“As lesões são inerentes aos atletas. Dei azar, uma cirurgia não deu certo e tive que refazê-la. Voltei, me recuperei e lesionei de novo. A decisão de me aposentar não foi tão complicada, porque eu notava que meu corpo não queria mais tanto sofrimento. Mas, óbvio, aquele momento de tu sair dos tatames, depois de 24 anos em que a maior parte da tua vida era aquilo, foi duro. Mas era o momento certo e, graças a Deus, fui sábio nessa decisão”, relembra o ex-judoca.


A aposentadoria e a vida política

Após uma longa carreira no esporte, João Derly anunciou a aposentadoria em junho de 2012 para travar um novo desafio: a vida política. Com mais de 14 mil votos, o ex-atleta foi eleito vereador de Porto Alegre. Sempre defendendo os jovens, o esporte e a educação, João implantou em Porto Alegre o programa Aluno-Atleta, que busca subsidiar o transporte público para os futuros atletas de alto rendimento da capital.

Foto: Richard Silva
Quem pensou que João iria se acomodar como vereador se enganou. Em 2014, Derly foi eleito deputado federal com 106.991 votos. Agora em Brasília, ele tentará colocar o esporte e a educação como prioridades na Câmara dos Deputados.

“O jovem que pratica esporte está tendo uma oportunidade incrível, pois nem todos terão sucesso esportivo. Mas todos estarão preparados para a vida, psicologicamente. Por isso decidi concorrer a deputado federal, para que o esporte a educação estejam lado a lado na formação da nossa juventude. E é lá que estão o poder e os recursos para fazer essa mudança”, destaca o deputado.

Guilherme Wunder

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